Reflexão

A FÉ NÃO CONSISTE NA IGNORÂNCIA, MAS NO CONHECIMENTO.
João Calvino

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Amazônia pré-colonial

Artigo originalmente postado em
http://www.cientifica.50megs.com/arqueologiahtm/amazonia1.htm

AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL
Baseado no artigo da scientifc american, "vestígios da Amazônia pré-colonial" de Eduardo Góes Neves

CIVILIZAÇÕES AMAZÔNICAS

Na época do descobrimento do Brasil foram feitas expedições de exploração pelo rio Amazonas .

Os relatos destas expedições contam que as margens do rio Amazonas e muitos de seus afluentes eram habitados por populações densas que viviam em grandes aldeias com até alguns milhares de pessoas. Estas sociedades estavam integradas regionalmente por extensas redes de comércio e tinham um padrão de organização política hierarquizado.

Porém não é unânime no meio arqueológico que estes relatos sejam de todo confiáveis, alguns cientistas acreditam que o relato dos cronistas da época seriam exagerados para com as falsas informações conseguirem recursos na europa para realizarem novas expedições. Um exemplo típico deste tipo de manipulação de informação seria a lenda das mulheres guerreiras contra as quais Francisco de Orellana, que chefiava uma expedição no interior do rio amazonas no ano de 1542, teria lutado, a lenda das amazonas teria dado nome ao rio.O cronista da expedição de Orellana era um frei chamado Gaspar de Carvajal, ele contou esta provável lorota mas também deixou registros interessantes do que realmente encontraram nesta região e nesta época recuada.

Outros arqueólogos aceitam os relatos dos cronistas sobre a densidade populacional e modo de vida destes povos como sendo um retrato fiel do modo de vida local. Para estes cientistas a Amazônia era densamente ocupada nessa época, sendo que o processo de colonização européia teria levado em algumas décadas a um drástico declínio demográfico, resultante da propagação de doenças, escravidão e conflitos bélicos.


TRADIÇÃO POLICROMA DA AMAZÔNIA

O frei Carvajal relata, nesta expedição de 1542, que os exploradores chegaram com fome a uma aldeia numa barranca do rio, e como a aldeia fosse pequena, eles a saquearam. Nessa aldeia o frei descreve que havia muita louça de diversos tamanhos e formatos, alugns vasos enormes e vasilhas pequenas, pratos e tigelas, e ele descreveu-as como de uma qualidade excepcional, como as melhores do mundo, afirmou que ela é toda alisada e esmaltada e de cores vivas que surpreendem. Ficou conhecida como "a aldeia de louça", e deveria estar localizada às margens do rio Solimões, entre a atual cidade de Coari e a foz do rio Negro.

Este tipo de louça descrito na expedição é chamada de tradição policroma da Amazônia, e são encontradas em um extensa área que vai, com interrupções, desde a ilha de Marajó até o sopé dos Andes, na Colômbia, Peru e Equador.

Cerâmicas policrômicas são de impressionante beleza, grande diversidade de formas e padrões decorativos, que variam de acordo com a região.

Existem muitas coleções em museus nacionais e estrangeiros, porém pouco se sabe das sociedades que as fabricavam.


OCUPAÇÃO DA BACIA AMAZÔNICA


A tese de que as margens do Amazonas era densamente povoado tem como principal sustentação o fato de que esta área e suas adjacências estão repeltas de sítios arqueológicos, e alguns ainda de grande porte.

O levantamento arqueológico feito no sítio Dona Stella, onde foram encontrados artefatos de pedra lascada e uma ponta de flecha enterrados em depósitos arenosos a mais de 1 metro de profundidade, indica que a região é ocupada há cerca de 8.000 anos, é um dado compatível com levantamentos de outras regiões amazônicas que situam o início da ocupação humana há 11.000 anos.

Houve uma rápida colonização de vários ambientes, nas planícies aluviais, em terra firme, distante dos rios como na serra dos Carajás. Os primeiros habitantes tinham um modo de vida organizado em economia diversificada, baseada na caça, pesca e coleta.

Após as ocupações iniciais há 8.000 anos, surge uma vazio cronológico, com duração de alguns milhares de anos, interrompido então há 2.500 anos atrás, pelo súbito aparecimento de ocupações associadas a grupos que produziam cerâmica.

O porque deste vazio na ocupação da área não é bem claro, 2 motivos se apresentam, ou não são encontrados indícios de ocupação porque estariam submersos por mudanças nos níveis dos rios durante o holoceno, ou realmente ocorreu uma interrupção duradoura na ocupação humana nestas áreas.

A fabricação de cerâmica na arqueologia amazônica é das mais antigas que se tem notícia nas Américas, com início há 5.500 anos e até 7.000 nos sambaquis litorâneos e fluviais do Pará, nas regiões do estuário e baixo Amazonas.

Inclusive nessa área não se notam interrupções na sequência cronológicas tão marcantes como as da Amazônia central.

Mas realmente é a partir de 2.500 anos atrás que mudanças nos padrões de organização social, econômica e política tornam-se notáveis no registro arqueológico da Amazônia central. Nesta época também que manifestações duradouras e visíveis de modificações paisagísticas começaram a se formar.

O aspecto mais visível dessas mudanças é o aumento no tamanho, densidade e duração de ocupação nos sítios arqueológicos. Evidências de aldeias maiores, ocupadas por períodos mais longos, acreditam alguns cientistas, outros no entanto a ocorrência de grandes sítios seria tão somente devido a eventos de reocupação sucessiva dos mesmos locais por diferentes populações.

Os que acreditam na hipótese de reocupações sucessivas seguem a premissa de que há, e houve, na Amazônia limites ambientais para o crescimento demográfico como baixa fertilidade do solo, pouca disponibilidade de proteína animal, imprevisibilidade nos regimes de cheia dos rios e ocorrência de fenômenos extremos de mudança climática no passado.

Já os que acreditam na hipótese da ocupação de longa duração, seguem a premissa oposta, de que não houve na Amazônia pré-colonial limites ambientais ao crescimento demográfico e que, onde isto possa ter ocorrido, atividades de manejo contribuíram para aumentar a capacidade de suporte do meio ambiente.


SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

Os sítios arqueológicos são encontrados em 2 tipos de solos: os solos de TERRA ESCURA e os solos de TERRA CLARA.

O solo típico da área é amarelado, pouco fértil e ácido. As áreas de solo escuro são pontuais, inseridos em locais arenosos ou argilosos e estão quase que sempre associados a sítios arqueológicos, quer dizer que existem alguns sítios em locais de terra clara, mas sempre existem sítios em locais de terra escura.

As terras pretas são surpreendentemente estáveis, férteis por séculos, isto não é típico da Amazônia que apresenta solo com baixa capacidade de retenção de nutrientes. É provável que a estabilidade nas terras escuras seja divido a associação entre fatores naturais e fatores culturais, ou seja, uma associação entre um solo naturalmente bom e restos deixados por colonização humana como, fragmentos de cerâmica, carvão de fogueiras, ossos de animais caçados. O bom solo seria naturalmente escolhido para ser habitado pelas suas qualidades intrínsecas e ainda se fortaleceria ao longo do tempo com restos orgânicos deixados pelos próprios habitantes.

Além dos fatores de fertilização pela presença humana, como enriquecimento por carbono, fosfato, cálcio e outros, ele ainda se torna menos sujeito a erosão por percolação e velocidade de evaporação da água devido a presença intensa de cacos de cerâmica na sua constituição.

As manchas de terra escura podem variar de poucos metros quadrados até centenas de hectares e sua profundidade pode variasr de 30cm até 2 metros.

As terras pretas parecem surgir em toda a amazônia a partir de 2.000 anos atrás, a única exceção é Rondônia onde foram encontrados locais de terra escura com até 4.000 anos.

A formação dos terrenos de terra preta é resultado de ocupação humana em assentamentos sedentários por longos períodos de tempo, com deposição constante de refugos orgânicos, restos de comida, carvão etc.

O processo de formação de terra preta não foi uniforme, variando de acordo com a intensidade da ocupação, o grau de sedentarismo e a densidade demográfica dos assentamentos.

Na Amazônia central, encontram-se sítios de terra preta surgidos a 1.600 anos, mas em áreas em que a ocupação humana ocorreu muito antes Na verdade áreas de campinarama apresentam sítios pré cerâmicos associados a artefatos de pedra bifaciais datados de 8.000 anos. Mas há cerca de 2.300 é que surgem ocupações associadas a grupos que produziam cerâmicas em estilo semelhante ao do baixo Amazonas, mas estas ocupações são menores e menos densas quando comparadas como os locais com terra preta.

Os locais com terra preta denotam uma mudança no processo de ocupação da região.

O modo de vida deve ter mudado por causa da adoção de uma economia mais dependente da agricultura.

O início do processo de domesticação de plantas na América do Sul ocorreu há 10.000 anos, mas só muito mais tarde a agricultura tornou-se uma atividade produtiva.

Os sítios de terra preta tem caracterísitcas bem peculiares. Solo bem fértil, abundância de fragmentos cerâmicos na superfície e tipos de vegetação de capoeira, diferentes das matas altas de terra firme.

Pode-se constatar em alguns dos sítios escavados na Amazônia Central, que eles foram abandonados bem antes do período colonial de 500 a 1000 d.C., porém a região continuou sendo habitada até 1500.Ou seja enquanto num passado distante as áreas foram aldeias exclusivamente, em um momento da história subsequente estas mesmas terras pretas viraram locais de plantio inclusivemente.

É evidente que os povos da região percebiam claramente a presença destas áreas de terra preta e ao que tudo indica continuaram usando-as, desta vez como áreas favoráveis a agricultura, o que denota manejo ambiental.

Constata-se que não houve um crescimento de vegetação de grande porte nesta áreas, então a área de confluência do Rio Solimões e rio Negro compunha um imenso mosaico, com significativa interferência antrópica.

O cenário visível do passado da região é de aldeias de tamanhos variáveis, roças em diferentes estágios de cultivo, cemitérios, áreas de terra preta cobertas por capoeira, trilhas conectando esses locais.

O artigo também sugere que : matas altas de ocupação pré-colonial da região ainda são muito pouco conhecidas, como os estados do ACRE , RORAIMA e RONDÔNIA.

A região de Roraima era provavelmente um elo de ligação entre as sociedades assentadas ao longo da calha do Amazonas e Negro e as sociedades do litoral das Guianas.

Já as populações assentadas no Acre e Rondônia mantinham algum tipo de contato indireto com as sociedades andinas

É muito evidente a presença das áreas de terra preta, note a cor escura da terra, e a presença maciça de cacos de cerâmica espalhados no chão

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